14 de fevereiro de 2013

Love no ar



Hoje acordei como a Bela Adormecida… O calor de um beijo despertou-me bem cedo para uma colcha decorada de pétalas de rosa e fragrância de Aloé vera pela casa e de torradas acabadinhas de fazer. O pequeno-almoço estava pronto, carinhosamente colocado num tabuleiro, ornamentado com mais pétalas de rosa, no fundo da cama, acompanhado de um postal com a foto de casal feliz onde se lia “Amo-te”. De repente, ouço: “Mamã, mamã!” Abri os olhos. Era o alarme do “carrifone” a despertar-me pela manhã e a acordar-me para o que afinal não tinha passado de um sonho, num dia em que o comércio é quem mais ordena com pirosices pelo meio e muito Love no ar… Afinal, o dia dos namorados é quando a gente quiser… Todos os dias, não?

13 de fevereiro de 2013

“Foi a menina que não pediu fatura? Tome lá uma multinha!”


Café. O vício já faz parte das entranhas do corpo e, se acompanhado de pastel de nata ou outro doce qualquer que adoce a boca e recheie o esqueleto com mais umas tantas calorias, melhor ainda! O que já não é tão bom é se nos esquecemos de pedir a fatura, porque exigi-la já não é um vício, não. Por enquanto… Esperem até a moda pegar… E o receio, sim, o receio de ser multado por não pedir a dita fatura, nos obrigar a pedi-la. E quase ter olhos no couro cabeludo ou estar sempre de pescoço virado até ter um torcicolo ao ponto de ter de ir a correr ao “endireita”, enquanto pedimos um cafezinho…

Só falta meter um lembrete no "carrifone" sempre que sairmos de casa para o caso de nos esquecermos das novas obrigações. E ir logo à internet - até pode ser no "carrifone", porque não? - para coscuvilhar a vida alheia...
É uma modernice da crise, daquelas coisas que só mesmo uns senhores de fato e gravata, a comandar o país se lembrariam de fazer. Só falta mesmo o vizinho do lado transformar-se num espião e recuarmos ao tempo da "PIDE" enquanto avisa o fiscal: “Olhe lá, aí vem o esquecido das faturinhas!...”.
Ainda que a Deco considere injusto e «erro histórico» penalizar os consumidores que não peçam a dita fatura. Mas se um fiscal estiver à cuca enquanto nos esquecemos de a pedir, porque nem sequer é um vício ou porque estamos demasiado preocupados a pensar na vida, na crise e sei lá mais o quê… Bem, já está… “Foi você que não pediu fatura? Então tome lá uma multinha…”

21 de janeiro de 2013

Quando o "carrifone" faz mais do que tocar e vibrar...



- “O carrifone, mamã?”, pergunta o meu garoto com voz meiga e curiosa, olhar vivo e cativante, sedento de beber novas imagens, letras e ficar saciado com tanta tecnologia!
Urra!... Bem hajam os “carrifones” dos nossos tempos que até os garotos de tenra idade - e olhem, que ele só tem três anos! - viciam as pontas dos dedos para arrastar imagens e páginas da net e depois até nem ficam tão satisfeitos quanto isso se o todo não lhes encher as medidas. E se pouco saciarem toda a efervescente sede de conhecimento.
E até regalam os olhos com um episódio do Spider-Man. Sim, já nem pede Homem-aranha. Para quê em português se até em inglês soa melhor!... Tão pequeno e até no seu inconsciente já sabe que o inglês é que está a dar!...
- “Quero ver o Spider-Man no teu carrifone, mamã!... O Peter Parker a salvar pessoas, mamã!”. O espetacular rapaz com os poderes do aracnídeo a lutar com o Venon, o Duende Verde e o doutor Octopus! Sim, já sabe que o “carrifone” descortina o mundo e mostra quase tudo o que quiser e até os Gormitis, os invencíveis senhores da Natureza – e nem todos são tão feios quanto isso e é o clássico – a luta contra o mal - Magmion, o Senhor do Mal, ou o Obscuro, o Senhor da Escuridão, na ilha de Gorm.
E até dá para dançar ao ritmo do vídeo da moda “Minestein”, como ele lhe chama em vez de “Gangnam Style”, do rapper sul-coreano Psy.
E até é fã do Facebook sem ainda o saber bem, sem se ter viciado como muita boa gente que anda por aí. E vibra com as fotos de conhecidos e familiares, e até com imagens invulgares nos murais. Alto lá!...
- “Quem é este senhor, mamã?”, pergunta sedento de informação. E como vamos explicar a uma criança de três anos que aquele senhor engravatado, com ar que parece saber de tudo, e que invade o Facebook da mamã, enxovalhado a torto e direito, é mais um Pinóquio do século XXI? A quem já cresceu tanto, tanto o nariz que precisa do poder de invisibilidade e de mais uns tantos superpoderes dos heróis de BD e daqueles que dá para assistir na caixinha mágica ou até no Youtube do “carrifone”?
Sim, esta é a geração do “carrifone”. De tão pequenos e inocentes que são nem sabem o que podem fazer uns senhores de fato e gravata, com ar de pessoa séria, bem-falantes, com o dom da retórica e tão astutos ao ponto de arrastar multidões. Alguns deles até bem-parecidos, ainda que cegos de amor-próprio. O que, afinal, podem não fazer pela geração dos “carrifones”? Até o Spider-Man faz melhor figura “a salvar as pessoas”. Ou a senhora do ar e o senhor da floresta conseguem ter maior audiência num episódio dos Gormitis a salvar o mundo - e nem precisam de horário nobre. E olhem que são só quatro os pequenos quando os senhores engravatados são quantos? Bem, já lhes perdemos a conta… E com o seu nariz de Pinóquio lá deixam em stand by o futuro da geração dos “carrifones”. Sim, estas crianças também conhecem o Pinóquio, a branca de neve envenenada com a maçã. Ao menos ela teve a sorte de ser beijada e salva pelo príncipe encantado. E este pequeno País? Quem é o príncipe que o vai salvar? Lá voltamos aos “carrifones”. Será que vão tocar?... Até quando nos vão testar os limites enquanto afundam uma nação? Valha-nos o “carrifone”…