- “O carrifone, mamã?”, pergunta o meu garoto com voz
meiga e curiosa, olhar vivo e cativante, sedento de beber novas imagens, letras
e ficar saciado com tanta tecnologia!
Urra!... Bem hajam os “carrifones” dos nossos tempos
que até os garotos de tenra idade - e olhem, que ele só tem três anos! - viciam
as pontas dos dedos para arrastar imagens e páginas da net e depois até nem
ficam tão satisfeitos quanto isso se o todo não lhes encher as medidas. E se
pouco saciarem toda a efervescente sede de conhecimento.
E até regalam os olhos com um episódio do Spider-Man.
Sim, já nem pede Homem-aranha. Para quê em português se até em inglês soa
melhor!... Tão pequeno e até no seu inconsciente já sabe que o inglês é que
está a dar!...
- “Quero ver o Spider-Man no teu carrifone, mamã!... O
Peter Parker a salvar pessoas, mamã!”. O espetacular rapaz com os poderes do
aracnídeo a lutar com o Venon, o Duende Verde e o doutor Octopus! Sim, já sabe
que o “carrifone” descortina o mundo e mostra quase tudo o que quiser e até os
Gormitis, os invencíveis senhores da Natureza – e nem todos são tão feios
quanto isso e é o clássico – a luta contra o mal - Magmion, o Senhor do Mal, ou
o Obscuro, o Senhor da Escuridão, na ilha de Gorm.
E até dá para dançar ao ritmo do vídeo da moda
“Minestein”, como ele lhe chama em vez de “Gangnam Style”, do rapper
sul-coreano Psy.
E até é fã do Facebook sem ainda o saber bem, sem se
ter viciado como muita boa gente que anda por aí. E vibra com as fotos de
conhecidos e familiares, e até com imagens invulgares nos murais. Alto lá!...
- “Quem é este senhor, mamã?”, pergunta sedento de
informação. E como vamos explicar a uma criança de três anos que aquele senhor
engravatado, com ar que parece saber de tudo, e que invade o Facebook da mamã,
enxovalhado a torto e direito, é mais um Pinóquio do século XXI? A quem já
cresceu tanto, tanto o nariz que precisa do poder de invisibilidade e de mais
uns tantos superpoderes dos heróis de BD e daqueles que dá para assistir na
caixinha mágica ou até no Youtube do “carrifone”?
Sim, esta é a geração do “carrifone”. De tão pequenos e
inocentes que são nem sabem o que podem fazer uns senhores de fato e gravata,
com ar de pessoa séria, bem-falantes, com o dom da retórica e tão astutos ao
ponto de arrastar multidões. Alguns deles até bem-parecidos, ainda que cegos de
amor-próprio. O que, afinal, podem não fazer pela geração dos “carrifones”? Até
o Spider-Man faz melhor figura “a salvar as pessoas”. Ou a senhora do ar e o
senhor da floresta conseguem ter maior audiência num episódio dos Gormitis a
salvar o mundo - e nem precisam de horário nobre. E olhem que são só quatro os
pequenos quando os senhores engravatados são quantos? Bem, já lhes perdemos a
conta… E com o seu nariz de Pinóquio lá deixam em stand by o futuro da geração
dos “carrifones”. Sim, estas crianças também conhecem o Pinóquio, a branca de
neve envenenada com a maçã. Ao menos ela teve a sorte de ser beijada e salva
pelo príncipe encantado. E este pequeno País? Quem é o príncipe que o vai
salvar? Lá voltamos aos “carrifones”. Será que vão tocar?... Até quando nos vão
testar os limites enquanto afundam uma nação? Valha-nos o “carrifone”…